A restauração das áreas no entorno de nascentes e mananciais contribui para a qualidade da água. Um exemplo bem-sucedido vem da cidade mineira de Extrema. Lá nasceu o Conservador das Águas – o primeiro projeto bem-sucedido de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) do Brasil.

O modelo usa fontes de financiamento público e investimentos de parceiros para incentivar a restauração por meio de pagamentos por serviços ambientais. Na prática, são assinados contratos com as propriedades rurais e, após a adesão, executam-se ações de restauração como o plantio de árvores nativas, implantação de bacias de contenção para a água da chuva e a construção de terraços.

Desde 2005, quando o projeto foi implementado, já foram plantadas mais de 1,3 milhão de árvores nativas que produziram bilhões de litros de água com a conservação de mais de seis mil hectares. Foram mais de 200 contratos efetivados com propriedades rurais beneficiadas pelo PSA. O sucesso levou o projeto a ser expandido para outros municípios de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro por meio do programa Conservador da Mantiqueira.

O projeto é realizado pela prefeitura de Extrema com o apoio da Agência Nacional de Águas (ANA), empresas da cidade, ONGs, entidades estaduais, universidades e centros de pesquisas, para apoiar produtores rurais na preservação de nascentes que possam ajudar a garantir a segurança hídrica da região.

Como funciona o modelo de restauração implementado em Extrema?

Com pouco mais de 30 mil habitantes, localizada na divisa com o estado de São Paulo, Extrema fica na parte alta das bacias hidrográficas dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (Bacias PCJ), em uma região de nascentes crucial para a restauração, já que é responsável indiretamente pelo abastecimento de nove milhões de pessoas da Região Metropolitana de São Paulo e três milhões de pessoas da Região Metropolitana de Campinas.

O primeiro passo é a identificação de áreas subutilizadas e/ou com baixa aptidão para a produção agrícola que podem ser utilizadas para a restauração. Em seguida, vem o levantamento de produtos que podem vir dessas áreas. A restauração com viés econômico pode gerar renda para os proprietários. Assim, é estabelecida uma “economia da restauração”, que ajuda a criar um ciclo capaz de mudar o uso da terra em milhares de hectares.

Uma vez plantadas as mudas, as etapas seguintes são irrigação, manutenção e monitoramento. E, para que tudo funcione, o trabalho conjunto é essencial. Além do envolvimento dos proprietários, o sucesso de Extrema também está nas parcerias. A administração local atua para replicar a experiência em outros 283 municípios da região da Mantiqueira, trabalho que exige uma intensa articulação, ação coletiva e investimentos públicos e privados.

Por que restaurar o entorno de rios e nascentes

As florestas, em especial as que margeiam os rios e nascentes, desempenham um papel essencial para o equilíbrio dos ecossistemas e para a qualidade e quantidade de água. A ausência de cobertura florestal nas margens dos rios prejudica esse equilíbrio: em períodos de estiagem, pouca água acaba fluindo nos leitos e, nas épocas de chuvas, ocorrem enchentes e enxurradas. As florestas nesses locais funcionam como uma espécie de esponja – absorvem e liberam aos poucos a água da chuva, alimentando o lençol freático e, em consequência, os cursos de água na região.

O mesmo ocorre com os topos de morro. Esses funcionam quase como caixas d’água, armazenando a água da chuva. Se não há árvores nessas áreas, a água desce sem se infiltrar no solo. As práticas do projeto Conservador das Águas, como a construção de terraços, bacias de captação de chuva e adequação de estradas próximas, buscam reverter esse processo.

Zelar pelos recursos naturais beneficia as pessoas e contribui para a economia do país. A restauração, ao mesmo tempo em que protege o solo e a biodiversidade, ajuda a melhorar o clima e a qualidade da água e desenvolve uma economia florestal, gerando emprego e renda para comunidades rurais.