Quando se fala que o Brasil tem potencial para ser um dos expoentes da nova economia, com base em atividades produtivas de baixo carbono, normalmente a riqueza das florestas aparece como um dos pilares desse futuro. Mas o que seria, de fato, uma nova economia florestal?

Parte da transição para uma nova economia florestal consiste em abandonar a abordagem meramente exploratória para um modelo produtivo capaz de conciliar o lucro com a conservação, gerando produtos e serviços ambientais, melhorando a qualidade de vida e o acesso a oportunidades de renda e emprego para as comunidades locais. Em vez de desmatar, restaurar e reflorestar.
A restauração de paisagens e florestas pode recuperar a função ecológica e produtiva das áreas degradadas. Segundo a Embrapa, até 100 milhões de hectares podem estar em situação ou processo de degradação no país, o equivalente à área do estado do Mato Grosso.

O exemplo mais evidente de como as florestas podem fazer parte da economia é através de produtos madeireiros. Há grande probabilidade de que as madeiras que nos cercam, seja em móveis, na construção, ou outros usos tenham origem ilegal. Estima-se que 50% da madeira usada no mundo é de origem ilegal, assim como 70% dos produtos madeireiros retirados da Amazônia, de acordo com estudo da Bolsa de Valores Ambientais BVRio.

A silvicultura de espécies nativas pode ser uma ótima opção para atender parte do mercado de madeira tropical, em complemento à produção de madeira oriunda do manejo florestal sustentável. Plantando árvores em áreas hoje degradadas e fazendo o manejo adequado, é possível produzir madeira de alta qualidade e valor econômico, gerar renda e empregos, sequestrar carbono da atmosfera e gerar outros serviços ambientais. Áreas restauradas também beneficiam toda a sociedade, pois preservam nascentes, protegem o solo e renovam o ar.

Agrofloresta: conciliando produtos florestais com cultivos agrícolas

Produtores rurais que decidem plantar florestas podem lucrar com o aumento da diversificação através de culturas agrícolas que se beneficiam da sombra gerada pelas árvores e ao mesmo tempo produzir produtos não-madeireiros. Por exemplo, o sucesso internacional do açaí mostra que há mercado para os produtos florestais no Brasil e no mundo. Além disso, frutas, castanhas, nozes, sementes, fibras, óleos, borracha e fármacos contribuem para uma economia sustentável em torno da floresta.

As florestas também podem exercer papel importante na produção agropecuária. Estudos recentes mostram que lavouras e pasto para pecuária podem prosperar em consórcio com árvores. São produtos que fazem parte da mesa de qualquer brasileiro. No Pará, a Camta produz sistemas agroflorestais para produção de madeira (mogno), açaí e cacau para chocolate. Já a Futuro Florestal, em Garça (SP), produz café consorciado com árvores nativas e exóticas. No Sul, a erva-mate prospera à sombra de árvores, e pode ser produzida consorciada com araucárias, por exemplo, que podem ser usadas tanto para madeira quanto para o pinhão.

As árvores também podem ser benéficas para a pecuária. A introdução de árvores melhora a qualidade do pasto, da água que vai servir aos animais, e produz sombra para o conforto térmico do gado. O resultado é que melhores condições para os animais resultam em carne de melhor qualidade.

Desafio é aumentar a escala

A abordagem econômica da floresta em pé é o caminho para inverter a lógica atual da região amazônica, por exemplo, baseada em extração ilegal da madeira, pecuária de baixa intensidade em solos degradados e um mercado de especulação fundiária no qual a terra degradada vale mais do que a que tem floresta.

Existe uma nova economia florestal que já está dando certo, apesar da falta de incentivos significativos. Consumidores nacionais e do exterior valorizam cada vez mais os produtos sustentáveis e de qualidade – o próprio exemplo do açaí mostra que eles podem ser muito mais do que nichos de mercado. Produtos como o cacau, por exemplo, que se beneficiam do ambiente da floresta e tem alta liquidez, podem ocupar espaço bem maior na produção brasileira. Isso sem contar outras espécies nativas que ainda podem alcançar esse grau de demanda.

Para o Brasil, uma nova economia florestal baseada na silvicultura com espécies nativas e sistemas agroflorestais significa posicionar o país na vanguarda de um novo modelo de produção sustentável de alimentos – ao mesmo tempo em que mantém as florestas e todo o seu potencial para as gerações futuras.