Os números são assustadores: uma pessoa morre a cada 15 minutos em um acidente de trânsito nas ruas e estradas brasileiras. Nos centros urbanos, os Sistemas Seguros são um caminho baseado em evidências científicas para reverter esse panorama. A abordagem sistêmica se baseia no princípio de que erros humanos vão acontecer, por isso o sistema viário precisa de soluções capazes de evitar que esses erros se transformem em fatalidades ou ferimentos graves. Essa estratégia também é conhecida como Visão Zero, nome de uma abordagem de segurança viária pioneira implementada pela Suécia no início da década de 1990, que partia da premissa de que nenhuma morte no trânsito é aceitável.

Tal capacidade está nas mãos do poder público, que precisa compartilhar a responsabilidade, visto que a culpa não é apenas das pessoas que se envolvem em acidentes de trânsito. Cabe aos gestores fazerem a sua parte atuando em diversos aspectos intrínsecos às cidades, como uso do solo e planejamento de mobilidade, gestão de limites de velocidade, desenho viário, tecnologia de veículos, atendimento de emergências, entre outros.

Esse tipo de abordagem não é uma realidade viável apenas em países desenvolvidos. A publicação Sustentável e Seguro, lançada pelo WRI e pelo Banco Mundial, descreve a abordagem de Sistema Seguro e orienta sobre como criar um sistema desse tipo, especialmente em países de baixa e média renda, como o Brasil. Algumas cidades já avançaram neste sentido, como São Paulo, que tem a ambiciosa meta de reduzir as mortes à metade até 2028, e Fortaleza que anunciou recentemente ter atingindo a meta estabelecida na Década de Ação pela Segurança no Trânsito da ONU.

Em mais um vídeo da série WRI Explica, explicamos como o conceito de sistemas seguros pode ser aplicado na prática:

Desafio Visão Zero busca mais ação

Como em qualquer inovação política, é necessário esforço para os Sistemas Seguros passarem de estratégia para a implementação. Apesar de a abordagem de Visão Zero ter se tornado um fenômeno global, geralmente as ações não têm acompanhado os compromissos políticos estabelecidos. Os desafios surgem quando mudam as administrações municipais e a segurança no trânsito se torna um ponto de disputa política, ou quando o financiamento e a capacidade de investimento não se alinham à retórica dos governantes. Esse desafio foi vivido nos EUA, por exemplo, onde muitas cidades que anunciaram planos de Visão Zero – Los Angeles é uma delas – têm sofrido para cumprir seus compromissos.

Para ajudar as cidades a enfrentar o desafios de colocar em prática os conceitos de Sistemas Seguros, uma rede de parceiros focados em segurança viária, liderados pelo WRI Ross Center, lançaram o Desafio Visão Zero. Voltado para cidades da América Latina e do Caribe, tem objetivo de levar as cidades da visão para a ação, a partir de uma rede de profissionais e financiadores capazes de colaborar com a mudança de paradigma necessária para implementar Sistemas Seguros de maneira rápida e correta.

Mais de 20 cidades do continente foram convidadas para participar do desafio. Serão seis meses de compartilhamento de experiências e treinamento em áreas como gestão de velocidades, segurança viária voltada para crianças e jovens, inovação e dados, legislação e financiamento e infraestrutura segura.

As cidades convidadas a participar incluem Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, São Paulo e Salvador (Brasil); Arequipa e Lima (Peru); Bogotá, Cali e Medellín (Colômbia); Buenos Aires, Mendoza e Rosario (Argentina), Cidade do México e Guadalajara (México), Kingston (Jamaica), La Paz e Santa Cruz (Bolívia), Montevidéu (Uruguai), Quito (Equador), San Jose (Costa Rica), San Salvador (El Salvador), Santiago (Chile) e Santo Domingo (República Dominicana). Maiores informações estão no site oficial do desafio.