A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCC) divulgou o relatório síntese do Balanço Global do Acordo de Paris, que oferece a mais ampla avaliação das ações climáticas desde a assinatura, em 2015, junto a um roteiro para os governos daqui para frente.

O relatório da UNFCCC, que é o primeiro do tipo, é resultado de dois anos de coleta de dados e trabalho de cientistas e técnicos, mas também empresários, líderes indígenas, agricultores, jovens, líderes da sociedade civil e muitos outros. O documento avalia os esforços mundiais na redução das emissões de gases de efeito estufa, no fortalecimento da resiliência de comunidades e na garantia de financiamento para combater a crise climática.

O foco da próxima Conferência do Clima da ONU (COP28) em Dubai, Emirados Árabes Unidos, será na discussão de como os países podem utilizar as descobertas do Balanço Global para manter ao alcance o objetivo de limitar o aumento da temperatura a 1,5°C e enfrentar os impactos das mudanças climáticas.

A seguir, o posicionamento de Ani Dasgupta, Presidente e CEO do World Resources Institute:

"A linguagem polida das Nações Unidas suaviza o que é um duro e contundente relatório sobre os esforços globais contra as mudanças climáticas. Emissões de carbono? Ainda em alta. Compromissos financeiros dos países ricos? Em atraso. Apoio à adaptação? Muito aquém do necessário.

Este relatório é um chamado de alerta para a injustiça da crise climática e uma grande oportunidade para corrigir esse rumo. Já sabíamos que o mundo não está fazendo o necessário para cumprir as metas climáticas, mas agora os líderes têm um plano concreto, respaldado por uma montanha de evidências, sobre como fazer isso acontecer.

Há alguns pontos positivos que merecem celebração, como a rápida adoção de energia renovável e de veículos elétricos nos últimos anos. E diversos países se uniram em torno de metas de emissões líquidas zero e aprovaram legislações climáticas importantes. Mas, no geral, o relatório aponta que existem mais lacunas do que avanços concretos – e essas lacunas exigem transformações sistêmicas em grandes áreas como energia, uso da terra, transporte e alimentos.

Os países precisam usar esse trabalho rigoroso como catalisador de grandes avanços nessas grandes áreas.

Na COP28, os líderes devem se unir em torno de um plano que acelere a transição para um ritmo e complexidade nunca vistos. Será preciso um rápido abandono dos combustíveis fósseis, a transformação de sistemas de produção de alimentos e o fortalecimento da resiliência de comunidades. Nações ricas precisam providenciar muito mais financiamento para ajudar os países em desenvolvimento a fazer a transição para uma economia melhor. Um desenvolvimento que tire as pessoas da pobreza e assegure que elas possam resistir a inundações e secas, mas ao mesmo tempo proteja a natureza e reduza drasticamente as emissões.

O sucesso da COP28 será determinado pela resposta dos governos ao Balanço Global. Não com palavras, mas com novos compromissos ambiciosos que conduzam a humanidade para longe do caminho destrutivo atual."