A restauração de paisagens e florestas pode gerar importantes benefícios para a sociedade brasileira. As florestas ajudam a proteger nascentes, e assim manter a qualidade e a quantidade de água, proteger o solo, controlar o microclima e retirar da atmosfera gases de efeito estufa que provocam o as mudanças climáticas. Além disso, pode estimular a geração de milhares de empregos em toda a sua cadeia produtiva e contribuir para a segurança alimentar.

Apesar desses grandes benefícios, é comum que a restauração seja percebida como um custo e não um investimento. Um estudo produzido pelo Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS) e publicado na revista Nature Ecology & Evolution no final do ano passado procurou avaliar se é possível equilibrar os custos com os benefícios, fazendo com que os projetos de restauração possam ser aplicados com o melhor custo-benefício possível para produtores rurais e para a sociedade.

O estudo avaliou a região da Mata Atlântica e considerou como custo os gastos necessários para implantação e manutenção de áreas restauradas, além do custo de oportunidade. Para os benefícios ecológicos, analisa a questão da biodiversidade, como quantas espécies podem ser protegidas em áreas restauradas, e a questão climática, com cálculos de quantos gases de efeito estufa as árvores restauradas conseguem retirar da atmosfera.

O trabalho concluiu que se os produtores fizerem apenas o mínimo necessário definido no Código Florestal, como a restauração de áreas de Reserva Legal e Áreas de Proteção Permanente (APP), e atuarem cada um por si, sem cooperação e sem priorização de áreas, teremos como resultado uma restauração mais cara e com menos benefícios ecológicos. Porém, se a priorização de áreas para restauração buscar um meio termo, é possível encontrar um cenário em que o custo e o benefício da restauração sejam equilibrados. Nesse cenário, com produtores cooperando e com a restauração focada em áreas prioritárias, a recuperação da Mata Atlântica seria 57% mais barata, resultando na proteção de 257% mais espécies e sequestrando 105% mais carbono.

A importância de priorizar áreas

Os resultados do estudo dos pesquisadores do IIS mostram que a restauração precisa ser bem planejada para ser efetiva. A priorização de áreas a serem restauradas é uma etapa-chave para que o plantio de árvores, seja para fim econômico ou ecológico, possa trazer benefício para a sociedade.

O WRI Brasil trabalha com uma metodologia para mapeamento de oportunidades de restauração de áreas e florestas degradadas na escala da paisagem que é um pouco diferente da aplicada pelo estudo. Essa metodologia, conhecida como ROAM, foi construída através de uma parceria entre o WRI e a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) para ajudar países e iniciativas subnacionais a identificar as principais barreiras, motivações e oportunidades de restauração.

A metodologia parte de uma abordagem participativa. Busca articular os principais atores interessados em restauração na paisagem para saber quais são suas necessidades, desafios e interesses. Essas motivações podem variar de região para região. Por exemplo, quando a metodologia ROAM foi aplicada no Espírito Santo, mostrou que a principal motivação da população local era enfrentar o problema da falta de água. Assim, a metodologia identificou no Estado as áreas críticas a serem restauradas que trazem o melhor custo-benefício para resolver o problema, como restaurar áreas de nascentes ou margens de rios.

Por que não olhar a restauração como num negócio?

Além de encontrar o melhor custo-benefício da restauração, há uma outra forma de equilibrar a questão econômica com a ambiental. A restauração não precisa ficar confinada em Reserva Legal ou APP – as áreas em que o produtor que desmatou e é obrigado por lei a recuperar.

Um grande movimento pela restauração está mostrando que plantar espécies nativas e Sistemas Agroflorestais (SAFs) pode ser lucrativo para o produtor, conciliando o plantio de árvores com a produção agrícola. O projeto VERENA (Valorização Econômica do Reflorestamento com Espécies Nativas) tem como um dos objetivos demonstrar a viabilidade e a escalabilidade de modelos a partir de espécies nativas e SAFs. O Brasil pode cumprir suas necessidades e metas de restauração e reflorestamento, revivendo o campo, e ao mesmo tempo criar e movimentar uma nova economia florestal, produzindo bons resultados para toda a sociedade e o planeta.