Nos últimos anos, um importante movimento pela restauração de paisagens e florestas vem permitindo o plantio e a regeneração da vegetação nativa em várias regiões do Brasil, tanto para fins ecológicos como para fins econômicos. Porém, para a restauração ganhar escala, ainda é preciso superar alguns obstáculos, como a necessidade de fomentar mercados para os produtos da floresta e proteger os serviços ecossistêmicos gerados durante o processo de recuperação ou em áreas já recuperadas.

Permitir que o público consumidor tenha acesso aos produtos da restauração pode ser um primeiro passo nessa direção. E a boa notícia é que estamos vendo, nos últimos anos, um crescente interesse dos consumidores em comprar produtos de qualidade, que sejam produzidos de forma sustentável, promovendo um modelo de produção de baixa emissão de carbono e que não avancem na floresta. Produtos que vão desde madeira legal até frutas, castanhas e medicamentos.

Como conectar os consumidores conscientes com quem está fazendo a restauração no campo? No interior de São Paulo, uma feira de produtos da floresta está se propondo a fazer essa ponte.

Uma feira da floresta viva

O produtor rural Patrick Assumpção, da Fazenda Coruputuba, em Pindamonhangaba, São Paulo, está articulando produtores da região do Vale do Paraíba Paulista justamente para fazer essa conexão do pequeno produtor com os consumidores. Esse trabalho começou ainda em 2017, quando ele, juntamente com parceiros e apoiadores, organizou uma série de feiras com esse objetivo.

Ainda não eram restauradores, mas sim pequenos produtores rurais que tinham dificuldade de acessar o mercado final, seja por falta de logística ou volume. Esse circuito de feiras, batizado de Feira Viva, conseguiu conectar os pequenos produtores rurais que têm consciência da responsabilidade com o uso da terra, que respeitam as regras de proteção do Código Florestal, com o consumidor final.

A ideia agora é replicar esse sucesso inicial destacando os produtos da restauração florestal. Por isso, Assumpção está organizando o I Congresso de Florestas Multifuncionais, a ser organizado em outubro, na Fazenda Coruputuba. “Nós queremos trazer para a mesa o máximo de produtores e apresentar possíveis rodadas de negócios com investidores. Mostrar para os produtores a viabilidade econômica da restauração”, diz.

O evento já tem confirmados 25 expositores de equipamentos e mais de 20 produtores com casos de sucesso. São pessoas que apostaram na floresta para produzir uma infinidade de produtos: madeira, resinas, galhos, flor, frutas e sementes. Geleias, frutas secas, até mesmo queijos e cervejas, resultados de produção em sistemas agroflorestais ou de integração lavoura-pecuária-floresta. “Na prática, essa produção já está acontecendo, mas ainda em escala pequena. Queremos mostrar que é possível ganhar dinheiro com isso, dando escala para a restauração”, diz Patrick Assumpção.

O Congresso está se propondo a juntar o setor produtivo industrial e agrícola com o setor florestal e ambiental, mostrando que juntos é possível restaurar com retorno econômico, criando uma economia em torno dos produtos da floresta.

<p>Produtor rural mostra sistema agroflorestal</p>

O produtor rural Patrick Assumpção em frente a um sistema agroflorestal na Fazenda Coruputuba, no interior de São Paulo (foto: Bruno Calixto/WRI Brasil)

Boas experiências com agrofloresta

A Fazenda Coruputuba sabe o que está fazendo ao trazer os produtores, consumidores e investidores para mostrar os produtos da floresta. Desde 2007 a propriedade substituiu a monocultura por plantios biodiversos, sistemas agroflorestais e silvicultura de nativas. O carro-chefe da propriedade é o plantio de árvores nativas para madeira, que pode ser usada na construção civil ou para a produção de barcos, entre outros usos. Se produzida em escala, a madeira plantada e manejada no Vale do Paraíba poderia ser uma alternativa à retirada de madeira ilegal de florestas protegidas.

Além da silvicultura de nativas, a propriedade tem áreas experimentais e unidades demonstrativas de agrofloresta, plantando espécies nativas em consórcio com espécies para produtos medicinais ou alimentícios. Há plantios que misturam jabuticabeiras com leguminosas, mogno africano com abóbora, mandioca com bananeiras, entre outros.

Consumo consciente da floresta

O Vale do Paraíba Paulista é uma das regiões em que a restauração está acontecendo e que tem grande potencial para se transformar num importante polo de economia da floresta nativa. O WRI Brasil, em parceira com produtores, governo e organizações locais, desenvolveu na região análises espaciais baseadas nas motivações dos produtores para restaurar, usando a metodologia ROAM. Os resultados mostram que há mais de 100 mil hectares de áreas degradadas que poderiam ser restauradas visando tanto questões relacionadas à adequação legal como para fins econômicos. O I Congresso de Florestas Multifuncionais reunirá participantes de diversos setores interessados nessa restauração para discutir a relação dos consumidores com riquezas e benefícios dos produtos da floresta.