Há várias formas de renovar uma paisagem que passou por um processo de degradação. Na área rural de Mariana, região atingida pelo rompimento da barragem de Fundão, tecnologias como o manejo de pastagem ecológica e os sistemas agroflorestais estão sendo implementadas para restaurar a região e ao mesmo tempo gerar renda para o produtor.

Uma terceira tecnologia também tem um potencial grande de restauração: a silvicultura de espécies nativas com finalidade econômica. Neste texto, o último de uma série sobre técnicas para recuperar áreas e florestas degradadas da bacia do rio Doce, explicamos como o plantio de espécies arbóreas nativas pode ser um negócio lucrativo para o produtor e bom para o planeta.

A técnica está sendo implementadas em unidades demonstrativas na região de Mariana através de uma parceria entre a Fundação Renova com o WRI Brasil.

A silvicultura de espécies nativas com finalidade econômica é uma das técnicas mais inovadoras para recuperação de áreas degradadas de baixa aptidão agrícola. A técnica propõe que florestas nativas sejam plantadas tanto em áreas de uso alternativo do solo como para recomposição da Reserva Legal, conforme determina o artigo 17 do Código Florestal (Lei 12.651/12), não somente como uma forma de melhorar o meio ambiente, mas também de gerar produtos madeireiros ou não-madeireiros a serem colhidos no futuro. Além do potencial para restauração das funções ecológicas, a técnica melhora a qualidade de vida dos agricultores e suas famílias.

Ensinando a produzir árvores

Apesar dos benefícios, a silvicultura de nativas com finalidade econômica ainda é pouco conhecida pelos produtores de Minas Gerais e do Brasil como um todo. Mas o interesse dos agricultores em formas de produzir com sustentabilidade e lucratividade levaram à implantação de cinco unidades demonstrativas com produtores interessados em aprender a plantar florestas nativas.

Esse trabalho se iniciou com um importante processo de engajamento da comunidade e produtores rurais e aprendizado com a realidade local. O objetivo é que o produtor participe do processo desde o início, e que ele possa se apoderar da tecnologia. Esse processo gerou importantes aprendizados. A partir dos interesses e necessidades dos produtores e comunidades, foi possível selecionar as espécies que mais interessam para eles e a região, como o cedro rosa, o ipê amarelo, o jatobá, o pau brasil e o vinhático, dentre outras.

A produção começa com o processo de cercar a unidade demonstrativa e plantar as espécies do grupo funcional de “recobrimento”. São árvores que crescem rapidamente e criam uma boa cobertura florestal, preparando e sombreando o terreno para o plantio de espécies de valor comercial. No ano seguinte, no período das chuvas, faz-se o plantio das árvores nativas que vão produzir madeira e produtos não-madeireiros, pertencentes ao grupo funcional da “diversidade”.

Cada espécie tem seu tempo de crescimento, quando enfim poderá ser colhida (madeira, frutos, óleos etc.) e vendida para serrarias como madeira legal ou para o comércio em geral. Os produtores são orientados a protocolar o plantio junto aos órgãos públicos. Uma vez protocolada, a madeira poderá ser colhida sem risco de ser confundida com desmatamento de florestas nativas com finalidade estritamente ecológica, podendo assim ser comercializada como madeira legal – o que contribui para reduzir a demanda por produtos de desmatamento.

Casos de sucesso no Brasil e mundo

Já há uma série de casos, no país todo, mostrando que plantar árvores nativas pode trazer resultados econômicos para o produtor.

O WRI Brasil, por meio do projeto VERENA, por exemplo, identificou diversos casos de produtores e empresas que plantam árvores nativas para fins econômicos com sucesso. Essa também é uma tendência mundial. A publicação The Business of Planting Trees, do World Resources Institute, identificou várias empresas que transformaram a restauração florestal em um negócio lucrativo e bom para o planeta.

Na bacia do rio Doce, a experiência desses casos ajudará a planejar o plantio de florestas e mostrar aos produtores que a silvicultura de espécies nativas pode ser uma opção viável economicamente. O resultado final é gerar benefícios em dois componentes: o ecológico, com a melhoria dos serviços ambientais como o sequestro de carbono e a qualidade do solo, água e ar; e o econômico, com a possibilidade de explorar comercialmente produtos madeireiros e não-madeireiros obtidos legalmente e que ajudam a diminuir a pressão pelo desmatamento e pela degradação das florestas existentes.

 

Saiba mais na página do projeto Renovando Paisagem.