O setor agropecuário é hoje um dos mais importantes do Brasil. Atualmente, o agronegócio é responsável por 1 a cada 3 empregos diretos ou indiretos no país e corresponde a 22% do Produto Interno Bruno (PIB) brasileiro, segundo estudo da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP). É também um dos setores que mais cresce: a expectativa é que o país tenha a maior área plantada do mundo até 2050.

Essa liderança, entretanto, tem sido cada vez mais questionada nos mercados internacionais por possíveis relações entre os produtos agropecuários brasileiros e as queimadas ou desmatamentos em biomas como Amazônia, Cerrado e, mais recentemente, Pantanal. Para que o setor possa continuar competitivo, ele precisa mostrar que pode crescer sem avançar nas áreas de florestas.

A boa notícia é que isso é possível. Recente trabalho produzido por WRI Brasil e pela iniciativa New Climate Economy, o estudo “Uma Nova Economia para uma Nova Era” tem um capítulo inteiro mostrando que a agropecuária sustentável é um caminho para uma retomada econômica verde para o Brasil.

Mesmas áreas, mais produtividade

O estudo trouxe um levantamento inédito mostrando grandes oportunidades para o setor agropecuário a partir da restauração produtiva e ecológica de pastagens degradadas. Hoje, o país tem cerca de 200 milhões de hectares de pastagens, sendo que aproximadamente 75% estão com algum grau de degradação segundo estimativa da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

O estudo analisou quais seriam os ganhos de restaurar parte desse total – no caso, os 12 milhões de hectares declarados no Censo Agropecuário 2017 como degradados. Recuperar todas essas áreas custaria em torno de R$ 25 bilhões, ou apenas de 11% do investimento do Plano Safra, o financiamento anual da agropecuária. Em dez anos, esse investimento não só se pagaria como resultaria em um retorno de investimentos de R$ 19 bilhões, de acordo com o estudo. Além disso, é um investimento inteligente para políticas públicas por parte do governo, pois esse aumento na produtividade agrícola geraria retorno em arrecadação de R$ 742 milhões.

Além da recuperação de pastagens, o estudo mostra grandes oportunidades econômicas para a agricultura sustentável no Brasil. Técnicas como plantio direto, por exemplo, podem aumentar o rendimento de culturas e a renda de produtores, e a intensificação da agropecuária pode triplicar a produção em um mesmo hectare.

Além disso, há grande oportunidade para a Amazônia a partir da bioeconomia não-exaustiva – aquele tipo de extrativismo que não exaure a floresta, como a produção de açaí. A bioeconomia pode ser importante alternativa para comunidades locais produzirem e gerarem renda mantendo a floresta em pé.

Como colocar em prática?

Fazer a transição para uma agricultura sustentável não exigirá uma ruptura. O estudo mostra que é possível produzir com mais sustentabilidade através da intensificação e aplicação de medidas já existentes – fortalecer o Plano ABC e o Planaveg, por exemplo, é uma dessas opções.

Além disso, é preciso aumentar significativamente os investimentos financeiros para a disseminação e adoção de tecnologias de baixo carbono em larga escala, criando incentivos ao desenvolvimento e aprimoramento de profissionais qualificados para assessorar os produtores rurais na implementação de novas tecnologias. Com capacitação e boa assistência técnica, os produtores podem otimizar os benefícios da adoção de tecnologias mais sustentáveis.

Retomada verde para o Brasil

Os dados são parte do estudo “Uma Nova Economia para uma Nova Era”, publicado em agosto pelo WRI Brasil e pela iniciativa New Climate Economy. A análise mostrou que a retomada verde gera melhores resultados econômicos do que o modelo de desenvolvimento atual, com aumento adicional do PIB de R$ 2,8 trilhões na próxima década e a criação de mais 2 milhões de empregos em 2030 adicionais em relação ao modelo de desenvolvimento atual, além da redução de emissões de gás de efeito estufa (GEE) e melhoria do bem-estar e qualidade de vida dos brasileiros.

O trabalho destaca políticas capazes de reduzir a pobreza e a desigualdade, contribuir para o cumprimento das metas econômicas e setoriais, estimular o crescimento econômico sustentável e tornar o Brasil mais resiliente a futuras pandemias e outros riscos, como as mudanças climáticas e a destruição de ecossistemas. O setor agropecuário terá um papel crucial nesta transição.