O começo de 2020 chegou dando sinais de que este será um ano-chave para a economia brasileira e mundial. O comprometimento da BlackRock, uma das maiores empresas de ativos do mundo, de trazer o componente de mudanças climáticas para suas operações, já mostra que há grande interesse no mundo financeiro em convergir para uma economia de baixo carbono. Em outro front, as chuvas no Sudeste revelaram a necessidade de se investir em uma infraestrutura urbana mais resiliente a eventos extremos.

Em artigo para o Valor Econômico, a diretora do programa de Clima do WRI Brasil, Carolina Genin, contou sobre os desafios deste ano – e como o Brasil pode embarcar em um trem de oportunidades para gerar emprego e fazer a transição para uma economia mais limpa. Estes são os principais pontos.

Uma agenda decisiva no Congresso Nacional

O principal ponto do artigo é que o Brasil já pode entrar na rota de investimentos sustentáveis. Essa é uma decisão que começa no Congresso Nacional, que reabriu os trabalhos legislativos neste mês.

O Congresso Nacional pode criar as bases legais para o Brasil fazer a transição para uma "economia de baixo carbono", como está sendo chamado o modelo econômico menos poluente e mais moderno já em implementação por diferentes setores e em diversos países, inclusive China, Estados Unidos e Alemanha.

Entre os pontos que o Congresso Nacional pode atuar, estão:

  • Garantir para investidores que marcos regulatórios basilares como o Código Florestal não sofrerão alterações que gerem incertezas e risco;
  • Fazer com que os novos marcos legais do saneamento e o das parcerias público-privadas tornem-se chamarizes para investimento em infraestrutura sustentável a curto prazo e com isso gerar emprego e renda;
  • Aproveitar reformas maiores, como a tributária e a do pacto federativo, para ajudar os estados a liderar projetos regionais de desenvolvimento econômico atrativos para o mercado externo, construindo um importante degrau para muitos saírem de suas atuais crises fiscais.

Títulos verdes e infraestrutura

Garantir os marcos legais no Congresso Nacional é o primeiro passo para que o Brasil possa incluir o componente da sustentabilidade no planejamento de infraestrutura, agricultura e indústria. Isso é importante porque a década que começa será marcada por investimentos externos em tecnologias, mercados e infraestrutura compatíveis com um modelo econômico de baixo carbono em todo o mundo.

Um relatório publicado em 2018 pela Global Comission on the Economy and Climate estima que, até 2030, serão investidos US$ 89 trilhões em infraestrutura. Hoje, pelo menos US$ 40 trilhões já estão disponíveis para investimentos verdes por parte de fundos de pensão, segundo o Instituto Think Ahead.

O Brasil tem tudo para estar entre os destinos preferencias desses recursos, mas no momento estamos perdendo terreno para vizinhos como o Chile. Carolina Genin usa como exemplo a emissão e empréstimos de títulos verdes. A emissão desses títulos se expandiu rapidamente na última década, atingindo um recorde global de US$ 202 bilhões em 2019. O Brasil, maior mercado da América Latina, recebeu apenas uma pequena fração de seu potencial: US$ 5,1 bilhões, segundo dados da Climate Bonds Initiative. Enquanto isso o Chile, que é a quinta maior economia da América Latina, já se tornou o segundo maior mercado dos títulos verdes do continente, atraindo US$ 3,1 bilhões. Por meio desses títulos, o Chile atraiu mais de 300 investidores para financiar linhas de metrô, investimento em prédios públicos, transição da frota para ônibus elétricos, entre outros.

A revolução dos ônibus elétricos

O artigo mostra o exemplo de como o Chile está atraindo investimentos e gerando emprego apostando na revolução tecnológica dos ônibus elétricos. Os ônibus elétricos geram empregos diretos e indiretos e têm retorno importante para o desenvolvimento local, conectando comunidades aos serviços urbanos. Além disso, gera benefícios como melhora da qualidade do ar e redução de emissão de gases de efeito estufa, de poluição sonora e de engarrafamentos, além da melhoria do serviço para o usuário do transporte.

O Brasil está bem posicionado para aproveitar essa oportunidade. Já existe uma fábrica de ônibus elétrico no país e estudos mostram que não há grandes gargalos a serem superados para se produzir veículos elétricos no Brasil. Além disso, o país possui um diferencial expressivo que é a soma de uma matriz elétrica de baixo carbono com um histórico de inovações em sistemas de ônibus.

Oportunidade para atrair investimentos

Assim como acontece com o ônibus elétrico, o Brasil pode se posicionar para receber investimentos com o selo verde em muitos setores, como infraestrutura, energia, agricultura e finanças. O Banco Interamericano de Desenvolvimento estima que os governos da América Latina necessitem investir em torno de US$ 77 bilhões até 2030 para adequarem suas economias e sociedades a um modelo de baixa emissão de carbono.

O dinheiro público cobrirá parte desse valor, mas são os investidores do setor privado os verdadeiros motores financeiros por trás desta transição que deve determinar o nível de competitividade da economia desses países. Através de suas ações, o Brasil precisa mostrar a esses investidores que merece cada centavo investido aqui.