A indústria das florestas plantadas é um setor bem estabelecido economicamente no Brasil. Segundo a IBA, esse setor fechou 2017 com um superávit de mais de US$ 9 bilhões, com a expectativa de investimento de R$ 14 bilhões em 2020.

Essa indústria, porém, é sustentada basicamente por apenas duas espécies de árvores exóticas: o pinus e o eucalipto. Enquanto isso, espécies nativas do Brasil, como castanheira, ipê e muitas outras estão entrando para o mercado de produtos madeireiros e não-madeireiros principalmente pela via ilegal, muitas vezes atrelada ao desmatamento e à degradação da floresta amazônica.

Plantar espécies nativas brasileiras poderia gerar um benefício duplo: atender à crescente demanda por madeira e produtos da floresta, gerando renda e emprego no campo, e ao mesmo tempo diminuir a pressão sobre as florestas naturais, reduzindo risco de desmatamento. Porém, para que isso aconteça em grande escala, o plantio de espécies nativas precisa estar melhor desenvolvido através de investimento em ciência e tecnologia.

Um estudo publicado nesta sexta-feira (4) pelo WRI Brasil e por parceiros mostra as lacunas para desenvolver uma nova economia florestal com o plantio de espécies nativas – e ajudar o país a cumprir sua meta de restaurar 12 milhões de hectares de florestas até 2030. O estudo, chamado “Research gaps and priorities in silviculture with native species in Brazil”, mostra que investir em pesquisa e desenvolvimento (P&D) é um bom negócio e a silvicultura de espécies nativas pode ser lucrativa e benéfica para o Brasil e o mundo.

Seguindo os trilhos do eucalipto

O sucesso da silvicultura de espécies exóticas no Brasil, como o pinus e eucalipto, não aconteceu por acaso. Foram décadas de investimento pesado em pesquisa e desenvolvimento para que essas plantações melhorassem sua produtividade.

O gráfico abaixo exemplifica isso. A partir do final da década de 1960, quando o eucalipto começou a receber investimentos, a sua produtividade subiu, permitindo produzir mais madeira por hectare. Ao mesmo tempo, a silvicultura de espécies nativas não recebeu investimento, e a produtividade não avançou.

Como o eucalipto, diversas espécies de árvores nativas brasileiras poderiam se beneficiar de um programa de pesquisa e desenvolvimento. O estudo do WRI Brasil e de parceiros identificou 45 espécies com potencial, e refinou em uma lista de 30 espécies – metade da Amazônia, metade da Mata Atlântica, sendo que algumas delas também podem ocorrer no Cerrado. São espécies como araucária, pau-brasil, ipê-felpudo e vinhático, na Mata Atlântica, ou paricá, mogno-brasileiro, ipê-amarelo ou andiroba na Amazônia.

Quais os resultados de se investir em P&D para essas espécies nativas? Os autores elaboraram quatro cenários de investimento, considerando número de espécies e anos de pesquisa e desenvolvimento. Os resultados mostram que o Brasil precisa fazer um investimento em P&D relativamente baixo. Uma análise de custo-benefício para um dos cenários (30 espécies) mostra que esse investimento tem retorno positivo: US$ 2,36 para cada dólar investido em um período de 20 anos.

Uma plataforma para preencher as lacunas

O estudo identificou lacunas no conhecimento científico em oito grandes áreas da silvicultura de nativas. São essas áreas que precisam receber investimento para que a restauração das espécies da Amazônia e da Mata Atlântica possa se tornar competitiva. São elas:

  • Sementes e mudas;
  • Clonagem;
  • Melhoramento genético;
  • Tecnologia da madeira;
  • Manejo florestal;
  • Zoneamento topo-climático;
  • Mercado para produtos madeireiros;
  • Políticas e legislações florestais.

Além disso, os autores fazem uma proposta concreta para direcionar recursos de pesquisa e desenvolvimento de nativas: a criação, em parceria com a Coalizão Brasil Clima, Agricultura e Florestas, de uma Plataforma de P&D. A proposta é que essa plataforma capte recursos públicos ou privados, seja de governos, empresas ou doadores, para destiná-los a uma pesquisa ainda em fase pré-competitiva, suprindo lacunas de conhecimento no desenvolvimento das espécies. A pesquisa permitirá desenvolver melhor o conhecimento científico dessas espécies, a partir de uma melhor seleção de mudas e sementes, técnicas de melhoramento genético ou desenvolvimento de princípios de manejo ainda inexistentes para essas árvores brasileiras e que sejam capazes de reduzir custos.

Os benefícios da silvicultura de nativas

A silvicultura de espécies nativas brasileiras tem o potencial de atender a demanda doméstica ou internacional por madeira de qualidade e dentro da lei, sem destruir as florestas. Pode gerar emprego e renda no meio rural, além de contar com inúmeros benefícios para o meio ambiente, como reduzir o desmatamento e a degradação, aumentar a biodiversidade local, remover milhões de toneladas de carbono da atmosfera e recuperar solo e nascentes de água. Ao investir em pesquisar e desenvolver a riqueza das espécies brasileiras, o país pode criar uma nova economia da floresta, gerando benefícios para toda a sociedade, e ainda cumprir compromissos brasileiros como a meta de restaurar 12 milhões de hectares de florestas até 2030.