Em 2011, o governo da Alemanha e a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) lançaram um desafio, conhecido como Desafio de Bonn, para todos os países do mundo: estimular o processo de restauração em 150 milhões de hectares de florestas e paisagens ao redor do globo até 2020, e 350 milhões de hectares até 2030. Governos nacionais, estados, organizações e empresas aceitaram o desafio: nove anos depois, mais de 70 iniciativas em mais de 60 países se comprometeram a restaurar 210 milhões de hectares até 2030.

O Brasil é um desses países. Entrou no desafio ao assumir o compromisso de restaurar 12 milhões de hectares de áreas degradadas e florestas até 2030. Além disso, o Pacto pela Restauração da Mata Atlântica se comprometeu a restaurar 1 milhão de hectares até 2020. Alguns estados brasileiros também assumiram compromissos por meio da Iniciativa 20x20, como Espírito Santo, São Paulo e Mato Grosso.

No começo de setembro, nove anos após o lançamento do desafio, a IUCN divulgou o balanço das metas de 2020. Os dados mostram que o Brasil está fazendo sua parte: a IUCN reportou uma grande quantidade de áreas em processo de regeneração natural na Amazônia e também destacou outros esforços de iniciativas regionais.

Polos de restauração no Brasil

O Brasil tem uma série de iniciativas para a restauração de florestas e paisagens que estão sobressaindo com muito sucesso. Há exemplos de iniciativas de silvicultura de espécies nativas para fins econômicos e sistemas agroflorestais, como os casos levantados pelo projeto VERENA, além de centenas de iniciativas de governos, empresas privadas, sociedade civil, academia, produtores rurais e comunidades.

Muitas iniciativas subnacionais também têm se destacado:

  • Pacto pela Restauração da Mata Atlântica: O Pacto pela Restauração da Mata Atlântica, um movimento formado por empresas, governos, produtores rurais, pesquisadores e organizações da sociedade civil para promover a restauração de áreas degradadas e florestas no bioma, completou dez anos. Em uma década de existência, o movimento já identificou a restauração de mais de 700 mil hectares, acredita que baterá a meta de 1 milhão de hectares e promete chegar a 2 milhões de hectares até 2025. O Pacto é um importante estimulador de restauração na Mata Atlântica e segue avançando nas atividades para fortalecer ações de implementação e compreender e apoiar os processos de regeneração natural.

  • Reflorestar: O Programa Reflorestar foi criado pelo estado do Espírito Santo com meta de restaurar 80 mil hectares até o final deste ano. Para atingir a meta, o programa trabalha com pagamento por serviços ambientais (PSA) e plantio de florestas tanto com fins de conservação quanto conciliando a proteção do solo e da água com a geração de emprego e renda para os produtores rurais. O estado disponibiliza recursos financeiros e técnicos aos proprietários, além de monitorar a implantação dos projetos técnicos e a evolução do aumento da cobertura florestal.

Essas não são as únicas iniciativas. Programa Nascentes, Programa PCI, Conservador da Mantiqueira e Aliança para Restauração da Amazônia também estão fazendo a sua parte na restauração de paisagens e florestas, além de diversas outros grupos de produtores e produtoras que se engajam na restauração, garantindo benefícios para a economia e o meio ambiente.

Regeneração natural é ferramenta para a restauração

Outro resultado do Desafio de Bonn no Brasil foi a identificação de cerca de 9 milhões de hectares em algum estágio de regeneração natural na Amazônia, sendo que 2 milhões estão em áreas cruciais para a biodiversidade.

Essa regeneração é muito importante, mas é preciso garantir que ela se consolide em florestas com capacidade de prover produtos e serviços ambientais para a sociedade. Para tanto, é necessário criar incentivos e investir no monitoramento da restauração para garantir a recuperação e conservação das áreas, evitando invasões, queimadas e novos desmatamentos. Um processo de regeneração natural assistida – em que produtores fazem alguma intervenção na área a ser regenerada – pode ser a chave para o sucesso da restauração.

De olho em 2030

Apesar dos bons resultados, o Brasil ainda tem bastante trabalho pela frente. Além de garantir a continuidade do processo de regeneração das áreas, o país precisa criar incentivos e mecanismos para estimular a restauração e conservação dessas áreas no longo prazo. Também é preciso investir em Pesquisa & Desenvolvimento de espécies nativas e acesso a mercados para estimular a restauração com fins econômicos, por meio da silvicultura ou dos sistemas agroflorestais.

A próxima década foi escolhida pela ONU como a Década da Restauração dos Ecossistemas. O Brasil terá a chance de assumir a liderança global na restauração de áreas degradadas e florestas, fortalecendo as iniciativas regionais e locais e criando polos de plantios com fins econômicos com geração de empregos e renda no meio rural.